terça-feira, 5 de outubro de 2010

República antítese da monarquia ?

Dos 867 anos de Portugal, 11,53 % foram de república, a partir de 5 de Outubro de 1910, sob os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade. Nestes 100 anos, houve 19 presidentes da república, sendo 8 na I República (1910-1926), 5 no Estado Novo (1926-1974) e 6 na II República (1974-2010).
A conjugação perversa das duas realidades que causaram, então, o colapso dos alicerces da monarquia, repetem-se hoje, um século depois, relativamente à república: de um lado, a indiferença do povo e, do outro, a incapacidade dos agentes políticos para encontrar soluções ajustadas às necessidades concretas do país.
Servir o país é a essência do patriotismo, independentemente do regime vigente. Nenhum cidadão - qualquer que seja a sua ideologia - tem o monopólio de saber servir Portugal.
Aos titulares de cargos políticos exige-se o cumprimento com lealdade das funções que lhes são confiadas pelo povo e em nome do povo. Desde logo, não devem reivindicar para si privilégios especiais pelos mandatos que lhes são conferidos e é seu dever terem sempre presentes, na sua actuação, a subordinação à lei e à ética do serviço público, pela verdade e pela transparência. De outro modo, os agentes políticos sujeitam-se a que os cidadãos os encarem com indiferença ou se alheiem dos destinos do regime em que vivem. É fundamental que a classe política, pela força do exemplo, dê aos Portugueses motivos para acreditarem nos orgãos de soberania.
É necessária e urgente uma nova cultura cívica para Portugal. Está muito longe o ideal de governo e de sociedade onde os cidadãos ocupem cargos de relevo e posições de destaque pelo seu mérito e pelo seu valor, pelo contributo útil que podem dar ao país, e não por qualquer privilégio de nascimento, de militância em partidos políticos ou em organizações (mais ou menos) clandestinas.
Tal como na I República, a crise e a instabilidade actual fica a dever-se, entre outros factores, à ausência de um elemento fundamental: a cultura da responsabilidade.
É pacífica a conclusão de que, actualmente, o regime continua atravessado por querelas e lutas que pouco dizem ao comum dos Portugueses. Lutas que são perfeitamente secundárias face aos problemas que o País tem de enfrentar: a iliteracia (disfarçada) e o empobrecimento, o atraso económico, as desigualdades, a dependência do exterior e o desequilíbrio das contas públicas*.
O essencial não são os jogos políticos, motivados pelos actos eleitorais e pelas lutas pelo poder. Ontem, como hoje, o essencial é a vida concreta das pessoas.
Se a responsabilidade constitui um dos alicerces básicos da vida colectiva de uma nação e todos, sem excepção, somos chamados a agir com sentido de responsabilidade, é - por maioria de razão -, aos titulares de cargos públicos, que mais rigor é exigível quanto a uma ética de responsabilidade. A bem da Nação.

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*Nos últimos 100 anos, só durante alguns anos de vigência do Estado Novo não houve desequilíbrio das contas públicas.

Nota: imagem reproduzida do blogue we have kaos in the garden .

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