Em declarações a Alexandra Carita, publicadas na edição do Expresso desta semana, Elísio justifica a sua demissão e sugere que a secretaria de Estado da Cultura integre o ministério da Economia, uma ideia que não é nova e que já tinhamos visto ser defendida por Armando Fernandes (quadro superior da Fundação Gulbenkian) e, mais recentemente, por Vasco Costa (ex director geral da DGEMN).
As declarações, em discurso directo de Elísio Summavielle, foram retiradas "ipsis verbis", tendo o ex-DGEMN recriado as perguntas para obter o formato de uma entrevista normal.
Dr. Elísio Summavielle como explica a sua saída abrupta de director-geral do Património Cultural ?
A demissão de Francisco José Viegas de secretário de Estado da Cultura precipitou a minha saída. Acabou uma relação muito estreita e de grande cumplicidade com um SEC que delineou sempre na sua acção o património como eixo central.
O perfil de Jorge Barreto Xavier não lhe desperta a mesma confiança ?
Se for ver a actividade do novo SEC, ela tem muito pouco a ver com a minha, com o meu pensamento e o meu posicionamento pessoal face à política cultural.
É por isso que tem muitos "receios" sobre o futuro da Direcção Geral do Património Cultural ?
Os equipamentos culturais dependentes da DGPC e das direcções regionais de Cultura estão no limiar de de poderem vir a fechar. Qualquer beliscadela no orçamento que foi estabelecido para 2013 (€ 39,4 milhões) põe em risco as garantias mínimas de segurança, vigilância e limpeza que os equipamentos precisam para funcionar. E não é de todo tempo para delírios, espaventos e festas... Tenho receio de que o orçamento seja beliscado por interesses corporativos. E aí sinto uma certa nostalgia de um carrilhismo serôdio e passadista.
Tem vindo a público na imprensa, que uma das opções claras de Barreto Xavier é aumentar o apoio às artes...
O problema da classe política é estar sempre mais interessada em inaugurações, banquetes e palcos, do que no trabalho invisível do património.
Os dirigentes políticos da Cultura têm aproveitado os fundos dos quadros comunitários de apoio ?
Queiram ter consciência de que há milhões em Bruxelas a que Portugal não tem acesso porque não está lá ninguém a tratar disso. São financiamentos que ultrapassam os que a SEC dá nos concursos de apoio às artes.
Se calhar os homens da Cultura não estão sensibilizados para os números e para projectos de financiamento..
Ponham-me na Economia.
Como ? Não me diga que queria que o património cultural integrasse uma secretaria de Estado dentro do Ministério da Economia ?
O património não é um ónus que temos de carregar às costas. Não, o património é o futuro. E pensá-lo como futuro só é possível no quadro da economia e, mais, no quadro político de uma estratégia nacional. É preciso pensar no património como objectivo estratégico, como investimento.
Não é uma pena o nosso património estar tão degradado e haver tanto dinheiro comunitário para investir ? Podíamos evitar a falência das poucas empresas de construção que nos restam...
Porque não canalizá-lo para a reabilitação urbana? São mil milhões de euros para investir, muitos postos de trabalho para criar e toda uma economia local para reanimar. Pensem nisso um bocadinho.
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(*) Foi subdirector-geral da DGEMN e é filho do saudoso Arquitecto Elísio Summavielle Soares (também da ex-DGEMN). É Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, condecoração atribuída pelo Presidente da República, pelos serviços prestados no âmbito de Lisboa-94, Capital Europeia da Cultura, em 24 de Maio de 1995.
Rectrospectiva: "Não podemos ter medo de pensar no património como um negócio" [Público, 8 Agosto 2012]; Elísio Summavielle: 'O poder tem que se regionalizar' [Sol, 31 Maio 2012]; Elísio Summavielle “É possível fazer omoletes com pouquíssimos ovos e sem passivos medonhos” [jornal i, 27 Fev 2912]; Elísio Summavielle - Entrevista ao Patrimonio online 2003.
(*) Foi subdirector-geral da DGEMN e é filho do saudoso Arquitecto Elísio Summavielle Soares (também da ex-DGEMN). É Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, condecoração atribuída pelo Presidente da República, pelos serviços prestados no âmbito de Lisboa-94, Capital Europeia da Cultura, em 24 de Maio de 1995.
Rectrospectiva: "Não podemos ter medo de pensar no património como um negócio" [Público, 8 Agosto 2012]; Elísio Summavielle: 'O poder tem que se regionalizar' [Sol, 31 Maio 2012]; Elísio Summavielle “É possível fazer omoletes com pouquíssimos ovos e sem passivos medonhos” [jornal i, 27 Fev 2912]; Elísio Summavielle - Entrevista ao Patrimonio online 2003.
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