Nuno Júdice é o segundo poeta português a vencer o prémio de poesia ibero-americana rainha Sofia, sucedendo a Sophia de Mello Breyner que venceu o de 2003.
Para os nossos leitores, aqui deixamos este poema de Júdice, que nesta altura, vem mesmo a propósito, quando o País precisa tanto de exportações e de poetas.
Para os nossos leitores, aqui deixamos este poema de Júdice, que nesta altura, vem mesmo a propósito, quando o País precisa tanto de exportações e de poetas.
O POETA
Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
um desses que preenche
cadernos de folha azul com
números
de deve e haver. De facto, o que
deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe
acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai
do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas,
de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um
escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que
passa a caminho
da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu;
e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia
interrupção da morte.
Ligação: El escritor portugués Nuno Júdice, ganador del XXII Premio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana [Univ. Salamanca].
Sem comentários:
Enviar um comentário