A senilidade tem destas coisas: dá-nos coragem para uma certa incontinência verbal e, enfim, dá-nos oportunidade de expressarmos mais frequentemente aquilo que de facto sentimos. Enfim, é a reminiscência da autoridade que já se teve e a nostalgia por um estatuto que deixou de se ter. Acontece aos reformados de todos os ramos de actividade e muito particularmente da política.
Vem isto a propósito do toque de clarim de Mário Soares e da recente almoçarada no Áltis de um quarteto de mediáticos grandes educadores socialistas, respectivamente, no lançamento e no estridente apoio público a António Costa no assalto à liderança do PS.
Sem oposição declarada, Seguro tinha tomado conta do partido em circunstâncias difíceis, na sequência da estrondosa derrota de Sócrates que catapultou Passos para o poder, mesmo sem ter curriculum político ou de Estado para isso, como vai sendo cada vez mais trivial no nosso país.
Tal como a Fénix a ressurgir das cinzas, Seguro arregaçou as mangas e procurou unir e reconstruir um partido destroçado, confortando camaradas derrotados - muitos deles seus adversários políticos internos - altamente comprometidos com a política de Sócrates de que a dívida pública não é para pagar.
Só que Seguro - que é cavalheiro, leal e educado - esqueceu-se que quem o inimigo poupa às mãos lhe morre. A política de generosidade e complacência para com os adversários fê-lo distraír da sua identidade política e de princípios que genuinamente sempre defendeu, nomeadamente:
- o aperfeiçoamento da representatividade democrática dentro e fora dos partidos;
- o regionalismo e a defesa do interior do país;
- a ética e a transparência, através da separação dos negócios da política.
Ao contrário do seu opositor - que é sulista, urbano e elitista, com "quadratura" assegurada continuamente nos media -, Seguro foi discretamente autarca no seu município natal e sabe que até mesmo um sinal de trânsito mal colocado pode prejudicar uma terrinha do interior, quanto mais a abolição de centros de saúde, de escolas, de repartições de finanças e de tribunais. E, se Seguro fosse presidente da Cãmara da capital, nunca deixaria ceder a uma casa regional um edifício que nem sequer serve para habitação.
A transparência do Estado e a separação dos negócios da política é outra bandeira de Seguro, que deve ser de todos os partidos e de todos os portugueses. Basta lembrarmo-nos das consequências de casos como os do BES, do BPN, dos submarinos, do Freeport, das PPP's, etc. A não ser que distraídamente deixemos colocar como símbolos nacionais figuras públicas com as quais Alves dos Reis teria muito que aprender.
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