segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SEIS CITAÇÕES DE HOMENAGEM A BORGES

Ontem morreu António Borges, um dos economistas portugueses mais reputados, que considerava dramática a facilidade com que os portugueses toleram níveis de mediocridade gritante. Fez parte da série de jovens economistas que Alfredo de Sousa incentivou e mandou fazer o doutoramento no estrangeiro. Quase nenhum destes doutores teve responsabilidades governativas. 
Borges - que apenas uma vez foi convidado para ministro, por Durão Barroso -, já tinha aprendido na universidade, nos EUA (em Stanford), uma lição (pouco católica) para toda a vida: a não ter tolerância para a mediocridade.

Em 2004, em entrevista ao Expresso, deixou-nos conhecer as suas ideias de então:

1. A importância económica da democracia.
É corrigir os erros. Não há regime melhor do que a ditadura iluminada. Se houvesse um príncipe perfeito conseguiríamos maravilhas do país. Veja-se o caso de Singapura. Ou Portugal no tempo do Rei D João II. Mas isso é extremamente raro. O problema da ditadura é que em 90 por cento dos casos não é assim, e não há maneira de corrigir. Quando se fala de que muitos países subdesenvolvidos só se desenvolvem se tiverem um regime forte, acho que esse é o pior cenário porque quando as coisas começam a correr mal - e isso rapidamente acontece porque o poder corrompe - não há maneira de corrigir. Veja-se o que se passa em África.

É mais fácil ser-se produtivo e eficaz no estrangeiro As empresas funcionam melhor, as coisas estão mais bem organizadas, a ineficiência é menos tolerada, há menos burocracia, e da parte das pessoas com quem trabalhamos há um sistema de apoio mais eficaz. Quando estou no Goldman Sachs, sei que faço a minha parte e todos os meus colegas fazem as deles. Sei que posso contar com isso. É essa a grande diferença entre um país desenvolvido e outro pouco desenvolvido. A produtividade colectiva é muito mais alta. É por isso que os portugueses que estão no estrangeiro são muitíssimo mais produtivos do que cá. Mas não são melhores do que os de cá. Estão é num ambiente que lhes facilita serem mais produtivos.

2. As pessoas surpreendiam-se quando dizia que era director o INSEAD, a principal escola de gestão da Europa.
A minha mulher é que costuma contar umas histórias sobre isso. Perguntavam-lhe se eu era o jardineiro do INSEAD... Mas isso nunca nos causou problemas.

3. Nem toda a gente pode ir para a política.
Acho que uma pessoa só pode ir para a actividade política se for independente financeiramente. Não pode ir a pensar o que vai fazer a seguir. A pessoa ideal é a que não precisa da política.

4. A política não é só para os ricos.
Mas, é preciso pessoas que tenham uma actividade profissional estabilizada.

5. A política tem de permitir aos políticos ter uma vida razoável.
Não consigo perceber como é que alguém com o estatuto de um secretário de Estado consegue viver com os ordenados que eles vivem.

6. Ser católico influencia a carreira de gestor.
A [influência] mais importante de todas é a ética. Ninguém pode dizer que é católico e roubar. Ou ser corrupto. Não ser minimamente leal ou solidário.


Nota: Em itálico, citações textuais de Borges, retiradas da entrevista dada ao Expresso de 6 de Novembro 2004.

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