domingo, 16 de outubro de 2011

EUROPA ADORMECIDA

Os ministros das Finanças e banqueiros centrais que integram o G20 relevam a  "crise europeia" no comunicado de 8 pontos, distribuído ontem, no fim da reunião de Paris e esperam que, na próxima cimeira Europeia, de 23 de Outubro, a Zona Euro consiga apresentar um plano que responda aos desafios em curso.
Só que a Europa está adormecida, nas palavras de Manuela Ferreira Leite. Na sua coluna semanal do Expresso, Manuela realça a recente intervenção de Cavaco no Instituto Universitário Europeu, em Florença, em que o Presidente português  fez duras críticas à União Europeia (UE) e aos governos dos Estados-membros. Ora leia:

Em véspera de se conhecer formalmente os pormenores do Orçamento do Estado para o próximo ano, pressente-se que o que nos espera, dadas as notícias diárias sobre este assunto, é de molde a a não deixar ninguém tranquilo.
Com efeito, desde a assinatura do memorando com a troika que se percebe que a desalavancagem financeira de que o país precisa, ao ter de ser feita no período de tempo que foi negociado, não permitirá ao Governo dosear as necessárias medidas correctivas de modo a amenizar o seu impacto negativo na economia.
A receita a aplicar torna-se assim menos eficaz quanto aos resultados e agrava o sofrimento colectivo para que inevitavelmente somos arrastados, aprofundando as dúvidas acerca dos limites a que este compromisso nos conduz.
Esta angústia tem levado muitos a questionar não só o valor do projecto europeu bem como o benefício da moeda única.
Perante estas dúvidas foi muito importante a intervenção que o Presidente da República fez esta semana no Instituto Universitário Europeu em Florença.
Com uma enorme clareza, apontou as origens da crise e os seus responsáveis, não deixando de especificar as decisões que urgentemente têm de ser tomadas para a ultrapassar.
De entre as mensagens transmitidas sublinho três que considero da maior importância para o país.
A primeira refere-se à chamada de atenção para a obrigatoriedade do combate à crise financeira incluir preocupações na promoção do crescimento económico e da criação de emprego, sem o que o “saneamento das finanças públicas terá um resultado socialmente insuportável”.
Esta questão estará certamente reflectida na proposta de orçamento que irá ser apresentada.
A segunda diz respeito à responsabilidade da União Europeia no atraso com que reconheceu a crise e na hesitação que tem demonstrado para a combater, embrulhando-se em divagações intermináveis, seguindo uma gestão errática e errada que tem impedido a tomada de acções rápidas que a situação exige.
A terceira, e mais importante, tem que ver com o facto de se estar a assistir à “desvirtuação do método comunitário” que tem estado a ser substituído pela actuação intergovernamental em que um directório constituído pela senhora Merkel e por Sarkozy se sobrepõe e condiciona a acção das instituições comunitárias.
Este alerta é de uma importância decisiva para um país como o nosso.
Com efeito, Portugal, sendo um país pequeno e periférico, só terá voz e poder de decisão no seio da União Europeia se as instituições comunitárias desempenharem a sua função de acordo com o poder e o mandato que lhes está atribuído pelos tratados.
Só teremos vantagens em que o poder de decisão esteja nas instituições e não nos Estados-membros, especialmente porque, neste caso, estará só em alguns de que não faremos parte.
A confiança de que todos os europeus necessitam só se recupera se as suas adormecidas instituições definirem um caminho claro, determinado e realista que lhes devolva a esperança que está a escassear.
Já começa a ser tarde.

Ligaçóes: Cavaco: Crise radica em políticas europeias erradas; Receita fiscal ultrapassa limite admissível. 

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