Francisco Guerra foi ontem, à noite, à Grande Entrevista de Judite de Sousa (RTP), despertar a nossa consciência colectiva para a dor silenciosa dos humilhados e ofendidos da rede de pedofilia da Casa Pia, reavivando-nos a memória de que os crimes existiram de facto, em contraponto com as poderosas tentativas de "branqueamento", feitas por alguns protagonistas, através da comunicação social.
Ficcionando o factualismo criminal com pseudónimos que constam do livro Uma dor silenciosa*, Francisco Guerra deixa-nos em desassossego quanto à possibilidade da rede de pedofilia continuar activa, ao afirmar que continuam em lugares chave da instituição Casa Pia, funcionários implicados na rede.
Retratou o político e alto funcionário "Pedro Ramos" que esteve preso e foi, depois, despronunciado, dizendo que "é, de todos, aquele de quem tenho mais nojo e o que mais odeio", porque "foi sempre o que mais me maltratou. Era muito mais violento do que os outros e batia-me enquanto me penetrava."
O antigo casapiano, que não escondeu a sua afectividade por Carlos Silvino (acusado da ligação e do recrutamento de rapazes), é, agora, um empregado de mesa que procura a paz interior e estuda música, mas que continua inquieto, nomeadamente com a memória das fotografias que Silvino lhe mostrou de alunos da Casa Pia a serem abusados por homens, uns que foram julgados e outros que nunca foram chamados à Judiciária.
Uma inquietação que nos alerta para a impunidade de alguns poderosos, que transparece também de outros casos mediáticos, e nos coloca perante um défice bem mais grave que o financeiro: o défice de Justiça.
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*Editado pela Leya, lançado na passada quinta-feira.
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