quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Se Queiroz tivesse consultado o dicionário de capa azul...

Se o ex-seleccionador nacional de futebol tivesse à mão o Dicionário Básico de Língua Portuguesa de capa azul, da Porto Editora, poderia ter sido mais contundente, sem que a ADoP considerasse como ofensivas as palavras que dirigiu aos médicos que fizeram o controlo anti-doping de jogadores da selecção.
E poderia ter demonstrado quão dinâmica é a língua portuguesa, em que há palavras apropriadas para todos os contextos. Só que Queiroz, se tem idade para frequentar as Novas Oportunidades, já não tem idade para se inscrever no actual 1º Ciclo.

Se a idade "perdoasse" e pudesse fazê-lo regressar ao 1º ou 2º ciclos do básico e morar, lá para os lados de Setúbal, teria a oportunidade de consultar no dicionário de capa azul, com as crianças dos 6 aos 10 anos, palavras como "fo..." (acto sexual), "ca..." (órgão sexual masculino) ou "co..." (órgão sexual feminino). E se pudesse regressar ao 3º ciclo, teria disponível, em todo o País, o tal dicionário que, segundo a Porto Editora, é recomendado a partir do 3.º ciclo.

Acontece que o actual conhecimento científico não permite a Queiroz recuar aos seus tempos de infância e, por outro lado, a ADoP não é, nem tem a "orientação pedagógica", do Agrupamento Vertical de Escolas de Cetóbriga, que permite que os dicionários com palavrões não sejam retirados às crianças, alertando mesmo que se trata de um meio complementar de estudo prioritário, escolhido pelo agrupamento.

As escolas que recomendaram a compra do dicionário com palavrões aos alunos do 1.º ciclo admitem ter-se tratado de um "lapso" na indicação da cor da capa azul e deveriam ter sugerido o Dicionário Básico de Língua Portuguesa cor de laranja.

Maria Fernanda, directora do Agrupamento Vertical, afirmou ao "Diário de Notícias": "Admitimos que tenha havido algum equívoco na cor, mas institucionalmente não houve qualquer indicação oficial" e que os dicionários com palavrões não vão ser retirados às crianças.

Ainda, segundo o "Diário de Notícias", a escolha desta obra para crianças pequenas foi aplaudida pela Associação dos Professores de Português (APP), que, pelas palavras de Edviges Antunes Ferreira, lembra que "uma das regras básicas de um dicionário é incluir palavras desde que estejam consagradas na língua portuguesa", tendo ainda garantido que "os miúdos deverão aprender todos os termos, para os saberem aplicar nos devidos contextos".

O azar de Queiroz terá sido justamente o contexto em que se dirigiu a Luís Horta e que ofendeu corporativamente os médicos que o acompanhavam. É que para a ADoP e para o Secretário de Estado Laurentino bastam uns palavrões para ofenderem e perturbarem o controlo anti-doping que se efectuou. Mas se Queiroz fosse um jovem estudante de 6 a 10 anos, poderia dirigir uns palavrões idênticos à sua professora* e teria certamente a nota máxima ou um elogio, pelo seu interesse e conhecimento da Língua Portuguesa**.

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*eventualmente da APP ou do Agrupamento Vertical de Cetóbriga.
**nomeadamente de Gil Vicente e outros escritores lusos mais recentes, utilizadores de termos mais vernáculos.

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