A par das relações com os jornalistas, que se processam diáriamente, há outro aspecto decisivo que passa pelo controlo dos principais meios.
A tentativa de comprar a TVI falhou, mas José Eduardo Moniz e Manuela Moura Guedes foram afastados e a orientação editorial da estação mudou. José Manuel Fernandes foi afastado do Público e a orientação do jornal também mudou.Medina Carreira foi afastado da SIC. O SOL foi alvo de uma tentativa de asfixia. E estes são apenas os casos mais conhecidos.
Por outro lado, o Governo soube cultivar boas relações com os patrões dos grandes grupos de media - a Controlinvest, a Cofina e a Impresa -, também como consequência das crises financeiras em que estes se viram mergulhados.
Podemos assim constatar que, das três estações generalistas, nenhuma hoje é hostil ao Governo, A RTP é do Estado, a TVI - que era muito crítica - foi apaziguada, a SIC tem-se vindo a aproximar do Executivo. Ora isto é anormal na Europa. Em quase todos os países há estações próximas da esquerda, há estações próximas da direita. há estações próximas do Governo, há estações próximas da oposição. Em Portugal é diferente.
Ainda no plano da contra-propaganda, já falei noutras alturas da técnica do boomerang. Como funciona ? Quando alguém da oposição (regra geral, o líder do PSD) diz qualquer coisa passível de exploração negativa, toda a máquina se põe a mexer para usar essa ideia como arma de arremesso contra quem a proferiu.
Passos Coelho diz que quer mudar certas regras na Saúde - e logo Francisco Assis, Silva Pereira, Vieira da Silva, Jorge Lacão ou Santos Silva, os gendarmes de serviço, vêm gritar: «O PSD quer acabar com o Serviço Nacional de Saúde». Passos Coelho diz qualquer coisa sobre as escolas públicas e as privadas - e lá vêm os mesmos dizer:«O PSD quer acabar com o ensino público gratuito!». Passos Coelho diz que quer certificar as 'Novas Oportunidades' - e os mesmos repetem «O PSD ofendeu 500 mil portugueses!». E, no final, todos dizem em coro:«O PSD quer acabar com o Estado Social!».
Passos Coelho não soube lidar com isto de início. E, perante estes ataques, acabou muitas vezes por bater em retirada. Propôs uma revisão constitucional e recuou. Outras vezes explicou-se em demasia. E com isso deu uma ideia de impreparaçãoe falta de convicção, que só recentemente conseguiu corrigir.
Ligações: Goebbels teria aprendido com as máquinas de propaganda actuais ? (I); Goebbels teria aprendido com as máquinas de propaganda actuais ? (III).
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